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China vai conceder 60 mil milhões de dólares em assistência e empréstimos aos países africanos

    A CERIMÓNIA DE ABERTURA DA 2ª CIMEIRA DO FÓRUM CHINA-ÀFRICA, APELOS À SOLIDARIEDADE, AO RESPEITO MÚTUO E AO REFORÇO DA COOPERAÇÃO POLÍTICA E ECONÓMICA COM GANHOS RECÍPROCOS DOMINARAM OS DISCURSOS:

    O Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou ontem, em Joanesburgo, que a China vai conceder 60 mil milhões de dólares em assistência e empréstimos aos países africanos.
    Apelos à solidariedade, ao respeito mútuo e ao reforço da cooperação política e económica com ganhos recíprocos dominaram os discursos, ontem, na cerimónia de abertura da segunda Cimeira do Fórum China-Africa, que prevê adoptar, hoje, a Declaração de Joanesburgo e o Plano de Acção do FOCAC 2016-2018.
    Num discurso em que fez eco o montante de 60 mil milhões de dólares, que a China põe à disposição para projectos de desenvolvimento em África, o Presidente Xi Jinping anunciou também o perdão parcial da dívida e abriu as portas para a formação de pelo menos 30 mil quadros africanos.
Xi Jinping, China, Jacob Zuma, da África do Sul, e Robert Mugabe, da União Africana, foram os protagonistas de uma cerimónia que transmitiu uma forte mensagem de paz, solidariedade e de esperança no mundo, num momento marcado pelo aumento da ameaça do terrorismo em vários lugares do planeta.
A Cimeira, que prossegue hoje focada no reforço da cooperação Sul-Sul, inspirada nos ideais de Bandung, há já 60 anos, envia também uma mensagem, implícita, da crença sino-africana num remoto, mas possível mercado comum de 2,6 mil milhões de consumidores, quase um terço da população mundial.
    Xi Jinping arrancou aplausos com expressões como “China e África partilham um futuro comum” e com aquilo que disse ser o segredo da força e do vigor da amizade sino-africana: “é que ambos sempre nos guiamos pelo princípio da igualdade, promovendo o desenvolvimento e o progresso, e a cooperação com vantagens recíprocas, baseada numa amizade sincera”.
    O líder chinês anunciou o início de “uma nova era” na cooperação sino-africana e enunciou dez pontos que vão orientar o desenvolvimento de uma parceria estratégica forte e sólida. Xi Jinping mostrou-se conhecedor da realidade e dos principais desafios do continente africano, e, de propósito, sublinhou o facto de ser a 70ª vez que viaja para África, e a segunda desde que se tornou Presidente da China. E foi directo quanto ao que realmente move a China nessa parceria com África: “Após desenvolvermos uma reforma durante mais de 30 anos, temos agora tecnologia, equipamentos, pessoal qualificado e capital necessário para ajudar África a realizar o seu desejo de conduzir o seu próprio desenvolvimento sustentável”.
Robert Mugabe
    Outro protagonista da sessão de abertura foi Robert Mugabe. O Presidente do Zimbabwe e líder em exercício da União Africana fez um discurso bem a seu jeito. Polido, objectivo e pragmático, mas também crítico em relação à atitude das potências ocidentais, que nada fazem para “ajudar realmente o continente africano”.
    Após realçar o “espírito de abertura e a franqueza” que norteia a segunda Cimeira do FOCAC, o Presidente Mugabe pediu que Deus abençoasse o seu homólogo chinês e a China, uma potência mundial que, como sublinhou, nunca teve colónias em África, mas faz o que não fazem outras potências, incluindo aquelas com histórico de colonização e exploração do continente berço. O presidente da União Africana destacou os ganhos da parceria FOCAC, enquanto plataforma de desenvolvimento estratégico, que vai ajudar África a realizar os objectivos da Agenda 2063. Antes da intervenção de Jacob Zuma, co-presidente e anfitrião do FOCAC, houve a intervenção de Dlamini Zuma, a presidente da Comissão da União Africana. Dlamini Zuma destacou a parceria existente entre a China e a CUA, e especialmente o apoio aos programas de saúde e às missões de manutenção de paz e segurança.
    A fechar a cerimónia, Jacob Zuma, anfitrião e co-presidente do FOCAC, enfatizou a disposição da China em abraçar juntamente com África um desafio hercúleo, que é ajudar o continente berço a recuperar de um atraso imposto. Originalmente, referiu, fomos camaradas de armas na busca pela libertação e liberdade, no auge do colonialismo e do apartheid. “Tendo em conta a história, era natural que a África desenvolvesse com a China uma parceria mutuamente vantajosa para o desenvolvimento e progresso”, disse Zuma.
O líder sul-africano considerou lapidar uma passagem do discurso do seu homólogo chinês, que, como disse, “todos deviam reter”. “O Presidente Jinping disse no seu discurso que o grande poderio militar chinês não é para fazer guerras, mas para promover a paz e a estabilidade no mundo. Isso é realmente importante”, frisou Jacob Zuma.
Objectivos alinhados
    Para o Presidente sul-africano diz muito o facto de a parceria China-África abranger a cooperação em várias áreas de desenvolvimento, como agricultura, energias renováveis, formação e qualificação de quadros, saúde, paz e segurança e infra-estrutura. “Alinhando estes elementos veremos que são parte da visão africana, conforme descrito pela Agenda 2063”, defendeu.
Segundo Jacob Zuma, além de inevitável, a parceria China-Africa está fadada para o sucesso. “Temos dados. A China se tornou o maior parceiro comercial de África, e África é hoje uma das principais fontes de importação da China e, já agora, o quarto maior destino de investimento. Esta parceria só pode produzir resultados ainda mais positivos para o desenvolvimento de África”, disse o líder sul-africano.
     Zuma também falou do actual momento da economia global e alertou que ninguém está efectivamente imune. “Vivemos uma crise económica global difícil e isso afecta tanto a nossa visão do comércio, como os fluxos de investimento nos nossos países. E isso exige inovação e resiliência para que as nossas economias consigam sobreviver nessa crise global”.
     Zuma também falou do terrorismo crescente em partes do continente africano, em França e em outras partes do mundo, que, como disse, exige de todos os líderes muito trabalho e espírito de unidade. “Estas tragédias lembram que enquanto líderes temos de trabalhar muito para construir a paz e também para promover o crescimento e desenvolvimento inclusivo”, disse o líder sul-africano, para quem a “solução duradoura do problema passa sempre pelas soluções políticas, sociais e económicas, jamais por uma solução militar”.
Ano marcante
     Para o Presidente Zuma, 2015 fica na história por vários motivos. Alguns bons, como a realização do FOCAC pela primeira vez em solo africano, e no seu país, em particular, mas também por motivos desagradáveis como a “dolorosa catástrofe humanitária ocasionada por uma migração mundial incomparável”. “Dezenas de milhares de imigrantes da África e no Médio Oriente pereceram no mar Mediterrâneo na tentativa de chegar à Europa”, lembrou Zuma, considerando que na base do desespero está a “necessidade urgente de fugir de guerras, da pobreza e de falta de esperança”.
     A Cimeira prossegue hoje, com intervenções de vários chefes de Estado, termina com a adopção da Declaração de Joanesburgo e do Plano de Acção do FOCAC (2016-2018). Uma data que é especial para o povo sul-africano e para o mundo, porque faz hoje precisamente dois anos que morreu Nelson Mandela. E Jacob Zuma fez, a este propósito, um apelo especial aos demais líderes africanos: “que a crença na paz, liberdade, democracia, igualdade, justiça e direitos humanos para todos continue a inspirar-nos a trabalhar incansavelmente todos os dias para construir uma África melhor e um mundo mais justo”.

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